sábado, 26 de dezembro de 2015

Aquele que me esqueceu


Às vezes acho eu
Acho-me esquecida
Por Deus
Aquele que me esqueceu


E eu
Que sempre estive perdida
Nasci mal nascida
Num corpo que não é meu


E cria
Porem não soube crer
Pago pela teimosia
De ao pecado ceder


Pecado esse sem fim
Sou eu em pura essência
Destituída de indulgência
Pecado cor carmim


E rogo clemência
Aquele que me esqueceu
Egoisticamente; eu
Declaro inocência.


Anna Valentina

sábado, 14 de novembro de 2015

Amor (U)


Ver-te
Vertigem 
Amor que nunca finda
Jamais principiou 
Estória linda
Nós - subentendido ficou
Vívida fantasia
De amor
Poesia
E dor


Anna Valentina

sábado, 26 de setembro de 2015

Entender


Qual a melhor maneira de lidar? A gente se pega tentando entender, mesmo se entender, porque é insuficiente qualquer tentativa em elucidar com exatidão o outro. O que o outro pensou? Por que disse o que disse da maneira que disse? E o que não disse? Já não importa. Poucas coisas estão tão a parte do nosso controle que a questão em voga se torna: Por que que eu ainda estou tentando entender? Sempre vai haver algo desentendido. Então, entender que nada se entende será subjetivo?



 Anna Valentina

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Que é de repente


Que é de repente, a narrativa se quebra e somos pegos atónitos, incrédulos. Mesmo que a fragilidade de uma situação flerte com o pior, nós empurramos as probabilidade para o amanhã e depois de manhã, porém, de repente, é hoje, é agora, faz algumas horas já e permanecemos embasbacados com a ficha por cair.
Porque é preciso lidar com a impermanência da vida, com a mutabilidade da história que não espera por um momento em que estejamos preparados, mesmo porque, nós dificilmente estamos. De repente tudo muda. De repente tudo o que é, foi, já não é mais nada.


Anna Valentina

domingo, 24 de maio de 2015

Um pouco mais



Eu só queria que tu tivesses ficado um pouco mais:

Com tuas mãos a deslizar sobre minhas coxas nuas
Com os dedos das minhas mãos enlaçados nas tuas

Com nossos olhos a se fitar
Com nossos lábios a se lambuzar 

Acariciando tua barba cheia 
Inalante teu cheiro que me norteia 

Ouvindo tua pulsação
Deitada sobre o teu peito e coração

Contando histórias sem parar
Esquecendo-se do tempo a passar

Poderias ter ficado um pouco mais
Eu te permitiria
Eu te quereria 
Como já não quero nenhum outro rapaz.



Anna Valentina

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Apego


Vez em quando ainda me pego a vasculhar a nossa história, presa a pequenos relapsos, incapaz de encontrar, de mim mesma, uma escapatória. Mas o que fomos? O que somos? A memória não queima fotos e nem fatos. E vai haver sempre uma música, uma esquina, um perfume, um dia de inverno qualquer que nos faça relembrar. Que nos diga que estivemos lá. Que nos delate a nós mesmos, que vivemos e fomos, em algum momento, um par.


Anna Valentina

domingo, 3 de maio de 2015

Só para você saber


Só queria que tu soubesses que tens tomado a maior parte dos meus pensamentos, soubesse só por saber, daí tu faz o que bem entender desse saber. Mas na verdade, gostaria que tu bem entendesse e percebesse o quanto eu sinto falta da tua companhia, da tua conversa fiada, das tuas palavras convictas de maturidade de quem já viveu mais do que eu. E só queria sentir teu cheiro e passar a mão pelo teu cabelo e beijar teu rosto inteiro e te abraçar malinando feito criança que acaba de ganhar a mais fofa das pelúcias. Podias me telefonar de vez em quando só pra dizer que não tem tempo, só para tentar desenrolar esse rolo de nunca conseguir me encontrar, mas para ser sincera, podias me ligar só para me deixar ouvir tua voz e tua respiração e fazer com que meus nervos desandem e meu coração aligeire, porque é gostoso esse sentir, esse nervosismo pequenino que oscila entre risadas e palavras atoa, entre conversas sérias e conversas vãs. Hoje tô sentindo aquele aperto de quando estás longe, se tua distância fosse só física, mas te percebo cada vez mais distante em sentimento e não sei como te segurar, porque só te quero assim, sem nada, você por você mesmo, o cara de trinta e cinco que as vezes é um menino de doze, que se acha um perigo para o mundo mas que não tem medo dos perigos do mundo. Hoje você podia aparecer só pra dizer que também pensa em mim, ou que pensou, enfim.


Anna Valentina

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Deixa chorar


Às vezes a gente se deixa chorar. Escondendo-se em baixo da coberta e do silêncio da madrugada para deixar que corra livre, que escorra leve sobre o travesseiro que, ao que parece, é o ombro amigo dessas horas, mais um ombro que um amigo, visto que, a solidão se torna a única companhia, e tem horas que é calma e acalma, mas tem vezes que apavora. Então a gente se deixa chorar, deixando que a lágrima lave o peito que uma hora pesa, uma hora transborda de pequenas dores diárias que a gente nem percebe que está a carregar.



Anna Valentina

quinta-feira, 26 de março de 2015

I Devaneio


Às vezes eu penso em te ligar, mas penso mais que algumas vezes em ti. Mas, vez em quando, a vontade é de te chamar. De perguntar como você está. Saber quando foi a ultima vez que fizestes a barba ao invés de só a aparar. De perguntar a quantas anda aquele projeto de quando nós ainda conversávamos. De questionar, mesmo sem vontade de saber, sobre aquela com quem se encontravas quando decidimos já não nos encontrar. Ou, talvez, eu tenha decidido sozinha. Decidido nos afastar. Mas você deixou alguma coisa aqui que eu não consegui pôr para fora. Você tirou umas mobílias do lugar e eu me esqueci de como as arrumar. Porque, quando estavas aqui, a bagunça que em mim reside não parecia ser de um incômodo tão desmensurado. Mas, de repente, tudo ficou meio desajustado. Às vezes eu penso em te ligar, mas penso que tu não vás estar, não para mim, não mais.



Anna Valentina

quarta-feira, 18 de março de 2015



De que me serve procurar memórias pelo teto
E derramar-me em lágrimas sobre o assoalho?
Conforta-me as madrugadas frias sob as cobertas.
Minha solidão. Minha escuridão. Meu agasalho.

E tão acostumada sou a ser um ser sozinho.
Minhas águas são turvas. Meus pés não tem caminho.
E sou tantas em uma só.
Sou vozes que gritão. Sinfonias que terminam em dó.

Para que vir ao mundo peregrino?
Para que viver feito quimera? Mera dúvida do destino.
E tudo vaga. Tudo voa. Tudo não existe.
O nada é o tudo em que meu sonho insiste. 



Anna Valentina

quarta-feira, 4 de março de 2015

II Saudade




Saudade é aquilo que vem de repente, sorrateira feito uma roedora, ela invade o nosso peito e inunda a nossa mente de memórias tão repetidas e banais, mas tão carentes e queridas, se querendo de um alguém, um objeto precioso de desejo. Desejando apenas um abraço e quiçá um sorriso mas quem sabe um olhar ou cá um cheiro bom que vem juntinho do corpo daquele alguém. E é de repente essa saudade, essa sorrateira roedora gorda, mas tão gorda, que sufoca os pensamentos e os impossibilita de fluir, e então aperta e então dói e então eu não sei mais como controlar, nem como deixá-la ir.


Anna Valentina

sábado, 28 de fevereiro de 2015

Sentir


Acho que ando sentindo demais, sentindo no mais, com cada vez mais intensidade, sentindo indefinidamente sensações que dilatam na minha mente e me corroem a pacificidade, dissabores me fazem perder a vontade. Me doem dores que outrora não existiam, me morrem sentimentos que desconhecia que em mim viviam. Sofro por escritos, descritos e mesmo os restritos. Sou um distrito desconhecido por mim, há fissuras, vielas, um labirinto sem fim. Mas de repente acabo, seco, murcho, morro e padeço de desconhecidos sentimentos que já não sei sentir.


Anna Valentina

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Copos de botequim


Então a gente se doa. Então dói, porque não é a toa. Quisera ter um paliativo qualquer que aliviasse as dores de mergulhar a procura de profundidade em uma relação rasa. Pomos a mão no fogo sabendo que nos queimaremos com a brasa. Mas, inconscientemente, debilitamos nosso imunológico e, é lógico, que aquela paixonite em forma de brisa se transforma numa verdadeira tempestade de sensações. São alegrias e mágoas e beijos e brigas e recordações. Logo, mais um ciclo se completa. Um capítulo que chega, inevitavelmente, ao fim. E, num desfecho clichê, lá vamos nós, de novo, tentar nos achar em copos de botequim.


Anna Valentina

domingo, 22 de fevereiro de 2015

Ao seu lado



Todos os momentos ao seu lado me parecem especiais, mesmo os mais tímidos, calados. Nos tornamos dois corpos distantes e mudos, como se alguém tivesse colocado a cena no multe. Porém, ele exala um cheiro. Um cheiro dele que é só dele e eu fico ali sem dizer nada, sem nem sentir falta das palavras, porque, no momento, estou inebriada, tentando disfarçar o meu contento com seu odor.
Logo mais sou obrigada a quebrar o silêncio, não quero que ele pense que não temos assunto, talvez nem tenhamos tanto. Ele passa a maior parte do tempo implicando com tudo que eu digo, mas é bom, porque, as vezes, ele sorri e ah! Como eu amo seu sorriso. Mesmo quando malicioso, tem uma brandura de criança e, de repente, o mundo parece melhor. O mundo é melhor quando ele sorri! 
Eu sei! Eu sei! Estou fantasiando de novo. Sempre me deixo levar quando ele me olha nos olhos. Tem algo nos seus olhos castanho que me prendem e ele sabe como me manter presa, mas então ele abaixa o olhar, quiçá não saiba lidar. Poderia culpá-lo? Não. Essas coisas não exigem culpados, nem vítimas. Somos prisioneiros da conveniência. 
Minhas pupilas estão dilatadas. Minha respiração ofegante. Meu cigarro não me deixa esconder o nervosismo e ele vê. Ele sabe que sou sua, mas, talvez, isso não seja o suficiente.


Anna Valentina

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Te desabitar


Que é num rompante que me rompes, invadindo meu sossego e defasando-te dentre as horas dos meus dias e então noites e então semanas afoites. Dormir são intervalos de lancinantes ilusões. És flecha que atravessa meu silêncio. Vens sobre meus trilhos feito faróis a fulgir em minhas escuridões. Mas diante de ti minha voz se cala e meu corpo suspira. Grita de sôfregas fantasias. Teu toque me insurge pecaminosas alegrias. E não consigo te juntar numa só memória. Escorres entre minhas meras vontades e meias verdades. Te crio em lembranças especulatórias. E então se perdes e me perdes e me levas por caminhos que não sei andar. Já não sei estar. Quer-me-ia partir de dentro de mim para te desabitar.


Anna Valentina

domingo, 8 de fevereiro de 2015

Falta


A falta. Há falta. Ainda me pego a tentar compreender, ao certo, o que falta e/ou sobra quando mais nada se diz. Quando o silencio se faz infeliz. Quando toda uma história se desfaz, ou nunca se faz, por um triz.


Anna Valentina

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Inseguranças


Por menores, minudências, miudezas e todas aquelas coisas que dentre as coisas ditas, feitas, não ditas e não feitas estão. São a essas coisas que me atento. São a partir destas coisas que me asseguro de todas as minhas inseguranças. Posso parecer, às vezes, perceba quando digo "às vezes", um tanto disparatada, talvez meio desatinada das ideias. Todavia, veja bem, pouquíssimas vezes me pegam na surpresa de uma futura ocasião, pois, se o tom está baixo demais ou alto demais, se as palavras falharam e os olhares me atravessarem ou dos meus se desviaram, (risos), prevejo, arquejo, vez em quando lacrimejo, então me preparo para o que há de vir. E não me venha com comiseração, se é um fim, se é um adeus, se é uma insatisfação, prefiro que me enfies o punhado de uma só vez, ao invés de fincá-lo vagarosamente com esse falsa piedade de quem já pouco se importa. Palavras paliativas me fazem preferir estar morta. E há quem diga que eu me precipito, mas ninguém vê que há em mim um precipício e a insegurança me faz propícia a insensatez.


Anna Valentina

sábado, 10 de janeiro de 2015

Enloucer


A pior coisa quando você acha estar enlouquecendo é, justamente, não enlouquecer. A linha tênue entre a sanidade e a demência que deixa-nos à mercê do desalento. Não há ponto de partida, não há meio, não há fim, não há justificativas e tudo é tormento. É desatinar entre as memórias mais triviais e delas profundar numa dor voraz. Nada abranda, nada satisfaz.


Anna Valentina

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Perder




E quem poder-me-á provar que no ato de perdoar nada se perde? O que um dia foi, foi, e nunca mais poder-se-á ser. Que nem mesmo as mais belas palavras, nem mesmo as mais límpidas lágrimas são capazes de desvanecer com a ferida que um dia foi aberta e mesmo que esta cicatrize a cicatriz será a perpetua marca da confiança sucumbida que não se pode reviver.
Anna Valentina

Teus sinais


Teus olhos castanhos penetram com tanta pungência, debaixo das tuas sobrancelhas espessas e negras, daquela tua fisionomia séria, lábios serrados e barba crespa e abundante e é sedutor e é semelhante, feito um homem por trás de um menino, é amante. Vez em quando ri, vez em quando se esconde. Leio tuas linhas faciais, sinto mais que o aquecer do toque do teu corpo, mas quisera compreender-te melhor em teus sinais.

Anna Valentina