quarta-feira, 12 de maio de 2021

Colapso

Eu estava louca! Feito estivesse entorpecida pelo efeito dissociativo de delírios nervosos via medicamentos duvidosos, a mercê da colateralidade de todos os meus distúrbios mais férteis, dos traumas infantis mais severos e desilusões de maior desamor. E sempre que me encontro nesse desencontro com a realidade, em que a lucidez me parece algo tão distante da minha capacidade de rememorar, pondero, me lanço num dissabor infantil abraçada pelas cobertas, feito pudesse voltar ao útero, ou mesmo ter a impressão parca de estar dentro dele novamente. Caio num sono cansado. Não choro. Não lamento. É um tormento silencioso que me leva a esse estado neutro, onde tudo deixou de fazer sentido para, conseguintemente, deixar de se sentir. Eu desperto com a certeza de que partir é o único acalanto, minhas horas vagam junto a sutileza de já não ter saudades de existir.

 

Anna Valentina

quarta-feira, 5 de maio de 2021

Maus hábitos


O que me descompassa os ânimos são essas tropicadas quase que arbitrárias conforme a musica toca e eu sou seduzida a deslizar os pés sobre a mesma ladainha enfadonha e romântica da meninice. Me pergunto se meus meses de análise são incapazes de atenuar ao menos a miséria da vergonha que na cara me bate, mas que deveria, decerto, me esbofetear. Me canso de tentar explicar o que é autoexplicativo: eu sou uma otária que ainda põe a culpa na vênus em peixes por autocomiseração. Perdoem meus excessos, quem sabe dê certo numa próxima encarnação.


Anna Valentina