segunda-feira, 24 de junho de 2019

Imatura


A si mesma se machuca por não saber distinguir a má sorte, por não ver norte, por enredar por vielas vesgas e escuras, por estar descalça sobre o campo de pedras pontiagudas dos próprios desejos, e morre a cada ensejo desatinado que acaba num sopro seco de quem não tem como amparar-te amor, de quem não te escreveu carta e contigo fez troça pois quisesse plantar sentido, mas não é fértil, nem tem lugar, vá-te embora que já passou da hora de se atentar, ou dia após dia adormecerá menina, num sono imatura e profundo no qual a cada noite há de se afogar.


Anna Valentina

Excessos


Os excessos, fora corrompida pelos excessos que me habitam, pois famigerei-me diante do amor, ouvi o que não entendia, entendi o que não devia, fiz o que pude sem poder, disse mais que se cabia dizer. Desesperei-me com medo da preterição, te quis segurar com a mão. Que quando teus olhos se mantinham diante dos meus, cálidos e penetrantes, feito fossem capazes de me ler por inteira e me arrebatar os entraves, o mundo se sentia, ainda que nada me fizesse sentido de ser, sentia, indistintamente, sentia.


Anna Valentina