sábado, 28 de fevereiro de 2015

Sentir


Acho que ando sentindo demais, sentindo no mais, com cada vez mais intensidade, sentindo indefinidamente sensações que dilatam na minha mente e me corroem a pacificidade, dissabores me fazem perder a vontade. Me doem dores que outrora não existiam, me morrem sentimentos que desconhecia que em mim viviam. Sofro por escritos, descritos e mesmo os restritos. Sou um distrito desconhecido por mim, há fissuras, vielas, um labirinto sem fim. Mas de repente acabo, seco, murcho, morro e padeço de desconhecidos sentimentos que já não sei sentir.


Anna Valentina

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Copos de botequim


Então a gente se doa. Então dói, porque não é a toa. Quisera ter um paliativo qualquer que aliviasse as dores de mergulhar a procura de profundidade em uma relação rasa. Pomos a mão no fogo sabendo que nos queimaremos com a brasa. Mas, inconscientemente, debilitamos nosso imunológico e, é lógico, que aquela paixonite em forma de brisa se transforma numa verdadeira tempestade de sensações. São alegrias e mágoas e beijos e brigas e recordações. Logo, mais um ciclo se completa. Um capítulo que chega, inevitavelmente, ao fim. E, num desfecho clichê, lá vamos nós, de novo, tentar nos achar em copos de botequim.


Anna Valentina

domingo, 22 de fevereiro de 2015

Ao seu lado



Todos os momentos ao seu lado me parecem especiais, mesmo os mais tímidos, calados. Nos tornamos dois corpos distantes e mudos, como se alguém tivesse colocado a cena no multe. Porém, ele exala um cheiro. Um cheiro dele que é só dele e eu fico ali sem dizer nada, sem nem sentir falta das palavras, porque, no momento, estou inebriada, tentando disfarçar o meu contento com seu odor.
Logo mais sou obrigada a quebrar o silêncio, não quero que ele pense que não temos assunto, talvez nem tenhamos tanto. Ele passa a maior parte do tempo implicando com tudo que eu digo, mas é bom, porque, as vezes, ele sorri e ah! Como eu amo seu sorriso. Mesmo quando malicioso, tem uma brandura de criança e, de repente, o mundo parece melhor. O mundo é melhor quando ele sorri! 
Eu sei! Eu sei! Estou fantasiando de novo. Sempre me deixo levar quando ele me olha nos olhos. Tem algo nos seus olhos castanho que me prendem e ele sabe como me manter presa, mas então ele abaixa o olhar, quiçá não saiba lidar. Poderia culpá-lo? Não. Essas coisas não exigem culpados, nem vítimas. Somos prisioneiros da conveniência. 
Minhas pupilas estão dilatadas. Minha respiração ofegante. Meu cigarro não me deixa esconder o nervosismo e ele vê. Ele sabe que sou sua, mas, talvez, isso não seja o suficiente.


Anna Valentina

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Te desabitar


Que é num rompante que me rompes, invadindo meu sossego e defasando-te dentre as horas dos meus dias e então noites e então semanas afoites. Dormir são intervalos de lancinantes ilusões. És flecha que atravessa meu silêncio. Vens sobre meus trilhos feito faróis a fulgir em minhas escuridões. Mas diante de ti minha voz se cala e meu corpo suspira. Grita de sôfregas fantasias. Teu toque me insurge pecaminosas alegrias. E não consigo te juntar numa só memória. Escorres entre minhas meras vontades e meias verdades. Te crio em lembranças especulatórias. E então se perdes e me perdes e me levas por caminhos que não sei andar. Já não sei estar. Quer-me-ia partir de dentro de mim para te desabitar.


Anna Valentina

domingo, 8 de fevereiro de 2015

Falta


A falta. Há falta. Ainda me pego a tentar compreender, ao certo, o que falta e/ou sobra quando mais nada se diz. Quando o silencio se faz infeliz. Quando toda uma história se desfaz, ou nunca se faz, por um triz.


Anna Valentina