quarta-feira, 17 de abril de 2019

Processo aliterário


Passo por um processo 
que pelo excesso me evoca o desprazer 
desagrado do não saber 
se caminho adiante ou se regresso 

Plantada horas sobre o assoalho 
rega-me os pés a lágrima da tormenta 
contudo declino em ato falho 
que no desequilíbrio se assenta 

Não há um norte para onde ir 
Sou sombra que vaga sem precisão 
Processos levam-me a diluir 
Devaneio do devir, existir; a aliteração.



Anna Valentina

terça-feira, 2 de abril de 2019

Supor


Supus ser ironia, a princípio, você e seu galanteio, aquele enamoro enunciado porém nunca materializado. Nosso flerte parecia-me tão ideal, daqueles que a gente acostuma a não ter se não no imaginário. Supus que talvez fosse o horário. Supus que fora a embriaguez. Supus um tanto de eventualidade para com a minha timidez. Então teu toque me alcançou num primeiro abraço, num primeiro beijo, mas teu cheiro já me foi freguês, e que bom freguês que ele permanece. Supus que cousa assim a gente não esquece. Obrigada por me visitar, já não espero que venhas pois hoje entendi que não há o que se esperar. Suponho, porém, hei de guardar com carinho esse momento onde fomos, materialmente, um par.


Anna Valentina

segunda-feira, 1 de abril de 2019

Desaguar



Aos poucos os versos liquefazem em pequenas desilusões e se quebram em colos, escorrem e correm entre os vãos. Tentamos secá-los como se nessa fricção de pulsos e panos nós fôssemos capazes de estancar o deságue da exaustão. Então vaza e vaza e vaza até se esvaziar, em nem tudo que é sentido há sentido, permitir-se que transborde, para o desanuviar.


Anna Valentina

Silêncio


Me calo, que adiante não há nada além do silêncio a ser dito, os suspiros vertem, os olhares vertem, qualquer movimento parece penoso demais. Não dizer nada é impreciso todavia é uma resolução assertiva, pois não te digo o que és, onde me cabes, se é que cabes, mas te entrego o indiferente vazio do não pretender, do que finda de repente, do que há de se esquecer.


Anna Valentina