quarta-feira, 22 de maio de 2019

Conquista



Não é a esbelteza a que me apego, o físico das vaidades almejado a mim pouco chama a atenção, não me instigo por um dorso delineado, nem por um peitoral avantajado. Hei de ser ganha pelos timbres dos risos, aquela sonoridade que distingue a razão da alegria de cada um, que nos singulariza na mais simples vibração. Sou fisgada pelos olhares afixados, pelas pupilas acrescidas, pelo lacrimejar do interesse encoberto. Conquistam-me os trejeitos que nos despem antes mesmo de qualquer intimidade, que nos entregam a profanidade. Sou susceptível a amar o que se mostra paulatinamente, que não convém a exaltação primeira, mas que me seduz e me rende a paixão derradeira.


Anna Valentina

quarta-feira, 1 de maio de 2019

Estimar



Estimar, quando você me diz que me estima... é bonito. Eu mesma uso muito, mas estimar às vezes pode soar tão impessoal, é um sentimento meio imaculado, me parece, porque é como se ele não vislumbrasse o íntimo. Você estima um professor cujo o intelecto se sobressai, você estima um advogado que te transmite ser ético, você estima uma atriz que atua magistralmente, você já me estimou bem mais quando mal nos conhecíamos. E é absolutamente normal que relações que ganham nuances mais profundas percam um pouco suas estimas, porque antes você me achava simplesmente uma mulher massa, inteligente, com coisas pertinentes a serem ditas, mas quando passamos a descortinar o nosso íntimo, você conheceu minhas fragilidades, minha autoestima lesada, meus comportamentos destrutivos e advindos de uma infância complicada, assim como eu conheci os teus. E é a partir daqui que a relação passa a ser um desafio, porque ela exige paciência, exige cumplicidade, exige humildade, é aqui que o amor se constrói, é quando, desnudos de todas as nossas virtudes, somos capazes de conceber um sentimento que subsiste ao pior do ser humano e que, sendo bem cultivado, nos frutifica com o que nem supusemos estimar… te amo d’um tanto que eu até me esqueci de rimar.




Anna Valentina