quinta-feira, 26 de março de 2015

I Devaneio


Às vezes eu penso em te ligar, mas penso mais que algumas vezes em ti. Mas, vez em quando, a vontade é de te chamar. De perguntar como você está. Saber quando foi a ultima vez que fizestes a barba ao invés de só a aparar. De perguntar a quantas anda aquele projeto de quando nós ainda conversávamos. De questionar, mesmo sem vontade de saber, sobre aquela com quem se encontravas quando decidimos já não nos encontrar. Ou, talvez, eu tenha decidido sozinha. Decidido nos afastar. Mas você deixou alguma coisa aqui que eu não consegui pôr para fora. Você tirou umas mobílias do lugar e eu me esqueci de como as arrumar. Porque, quando estavas aqui, a bagunça que em mim reside não parecia ser de um incômodo tão desmensurado. Mas, de repente, tudo ficou meio desajustado. Às vezes eu penso em te ligar, mas penso que tu não vás estar, não para mim, não mais.



Anna Valentina

quarta-feira, 18 de março de 2015



De que me serve procurar memórias pelo teto
E derramar-me em lágrimas sobre o assoalho?
Conforta-me as madrugadas frias sob as cobertas.
Minha solidão. Minha escuridão. Meu agasalho.

E tão acostumada sou a ser um ser sozinho.
Minhas águas são turvas. Meus pés não tem caminho.
E sou tantas em uma só.
Sou vozes que gritão. Sinfonias que terminam em dó.

Para que vir ao mundo peregrino?
Para que viver feito quimera? Mera dúvida do destino.
E tudo vaga. Tudo voa. Tudo não existe.
O nada é o tudo em que meu sonho insiste. 



Anna Valentina

quarta-feira, 4 de março de 2015

II Saudade




Saudade é aquilo que vem de repente, sorrateira feito uma roedora, ela invade o nosso peito e inunda a nossa mente de memórias tão repetidas e banais, mas tão carentes e queridas, se querendo de um alguém, um objeto precioso de desejo. Desejando apenas um abraço e quiçá um sorriso mas quem sabe um olhar ou cá um cheiro bom que vem juntinho do corpo daquele alguém. E é de repente essa saudade, essa sorrateira roedora gorda, mas tão gorda, que sufoca os pensamentos e os impossibilita de fluir, e então aperta e então dói e então eu não sei mais como controlar, nem como deixá-la ir.


Anna Valentina