domingo, 23 de dezembro de 2018

Frutear


A instabilidade quiça seja o meu ponto estável, que nada se cria na minha paz, são os tormentos que me movem, são as dores que fruteiam em meus romances banais.




Anna Valentina

sábado, 10 de novembro de 2018

Amiúde


Porventura eu tenha sido corrompida pela breguice tacanha dos românticos lunáticos de outrora, já não enxergo profundezas, nem racionalizo sobre meus traumas infantis. Que há algo de belo e reconfortante nessa burrice de quem se apaixona, o corpo padece de processos químicos que nos farão humilhados por décadas até sermos capazes de ignorar as nossas displicências como se fossem peripécias de juventude, pena mesmo é eu, amiúde, acreditar que há nesse processo alguma virtude.





Anna Valentina

quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Não caber


Não caber, 
há tanta coisa dentro desse descabimento, 
extensas narrativas escritas sobre o desalinhamento, 
como tudo na vida que suscita o amor e o sofrimento, 
não caber é a busca contínua pelo afago, 
pela aceitação e pelo entorpecimento.



Anna Valentina

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Aguardar


Depois de descrer da causalidade, depois de alguns equívocos precipitados a racionalidade, depois de entender que mesmo os mais nobres sentimentos podem ser incômodos àqueles que não o desejam de verdade. A gente aprende a calar, aprende que tem sentimento que é melhor segurar, e aprende a aguardar na guarida do tempo que ele há de passar, mesmo quando atrasado, nuns dias se delonga, noutros vira passado.


Anna Valentina

segunda-feira, 23 de julho de 2018

Etéreo


É complicado desmistificar a impermanência, já que tudo que se pretende ideal tem sempre aquele ar imperecível. Da mesma forma são as relações, etéreas, no amplo sentido da palavra. É preciso que atitudes de carinho sempre se demonstrem, que palavras de afeto frequentemente se repitam, que o amor seja ordinariamente regado. Tantos vínculos sucumbem a mal-entendidos - não como se fôssemos capazes de nos bem-entender - mas a graça está exatamente em tentar, é um entender-se no desentendimento, é saber que a vida é este mero e igualmente raro momento.


Anna Valentina

quinta-feira, 7 de junho de 2018

Entrelinhas



Não é como se nós não soubéssemos das entrelinhas, mas é preferível não lê-las, é preferível subentender do que expor o que ninguém sabe lidar, dá vergonha, dá náuseas, só não dá pra falar do alface no dente, que é desconcertante estar diante do desconcerto do outro, a gente fica sem saber onde tocar, não sabe se sorri ou se melhor fingir. Então disfarçam-se os trejeitos, cúmplices do que se criou dos nossos frágeis conceitos. 


Anna Valentina

quinta-feira, 22 de março de 2018

Sem filtros






Foi difícil entender. Vez em quando eu ainda me desentendo com alguns entendidos. Mas ao olhar de cá, da distancia que o tempo deu a essa narrativa, é possível ver para além de certos filtros. Aqueles filtros matizados de cores quentes e claras e cintilantes e latejantes. Tudo pungia perto de ti, dos sorrisos as dores aos temores. Sofrer era combustível de poesia a um eu lírico dignificado por um amor impossível. 

Porém, algo em mim acreditava. Você acredita?

Tardou, mas calhou d'eu perceber, depois de altos custos, que você não percebia; que você não entendia; que você não sentia. A satisfação, a palpitação, cada interstício delirioso que me aturdia de emoção, estar junto de você, não era a ti semelhante a estar junto de mim. Mero clichê.

Coagi-me a partir, a despeito da minha alegria, preferível é viver a ausência de um ser que a sua apatia. 



Anna Valentina