domingo, 15 de outubro de 2017

Apoucado




É mais confortável sonhar assim. Acreditando que o que nos separa do amor é a incapacidade de lidar com a adversidade. Acreditar na covardia e não na apatia. Justificar o descaso com a falta de tempo. Fingir que o egoísmo é singelo fruto da auto-proteção. Mas no fundo a gente sabe da ausência, a gente sente a falta, a gente seca de escassez. Na próxima, que seja breve e seja leve o conto do (des)amor que apoucado se desfez.


Anna Valentina

domingo, 8 de outubro de 2017

Desejo



A gente se diz tanta e coisa e tanta coisa se diz por si só. Mesmo os silêncios nos delatam, entendimentos que não se explicam. Nossos olharas se trocam, se esbarram, se fixam, se escondem e expressão nossas vontades já tão dissimuladas. Então os sorrisos se entregam ao deleite do encontro, e proseiam vulgaridades ante nossos lábios que cobiçam, tão somente, se tocar. Tua presença me ouriça e me leva a fantasiar a mais infame lascívia ao te desejar.


Anna Valentina

domingo, 24 de setembro de 2017

Tua breve passagem



Que não te venhas a arrepender
Que esse tipo de engano é veneno mortal
Amor, jamais ter-te-ia mal
Que pesaroso sentimento faz-se fenecer.

Meu medo primor de nunca mais te ver
Tive de conter, tive de contar
O fadário de te ter de deixar
Silenciando o que não se consegue esquecer.

Se amas a outra, que posso eu fazer?
Que posso eu contra teu querer?
A vontade do teu coração selvagem.

Estrada-a-dentro vai minha vida
Minh'alma outrora florescida
Por tua breve passagem.


Anna Valentina

quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Relação IV




Porque havia alguma coisa entre nós que me desinquietava, que me cheirava bem, que me era doce e às vezes cítrico e às vezes impalatável. Ficávamos sentados no sofá, conversávamos sobre qualquer coisa que rendia um montão e ríamos, quiça eu risse mesmo das tuas risadas, que nada tinha tanta graça quanto a graça te de ver sorrir. A gente até lacrimeja e enrubesce do tanto que o coração aquece com esse teu manejo de menino. Mesmo incerta sobre o que sucederia da nossa relação que vivia a beira de se atirar ao adeus, ainda que os meus melhores sentimentos fossem teus. Me tinhas sem se esforçar, me tinhas sem me avisar, meu bem, hoje me deixo levar para que as horas convertam o amor ao pretérito imperfeito também.



Anna Valentina

segunda-feira, 31 de julho de 2017

Chorar



No dia em que eu decidi de fato me afastar, eu chorei mas não sofri. Na fila do caixa do supermercado, eu chorei mas não sofri. Ao acordar e perceber que eu não te veria mais, eu chorei mas não sofri. Porque depois de tanto sofrer, eu aprendi que chorar basta. Que a dor pode ser inevitável, mas o sofrimento há de se perder de vistas fadigadas.


Anna Valentina

quinta-feira, 18 de maio de 2017

Ambilateral



Eu sou excessos e sou comedimentos. Entorno pelas bordas dos meus dramas. Mas pela lucidez eu faço fama. pois sei deliberar com tamanho discernimento. Que há em mim sobretudo razão, todavia, peco pela comoção. E me atiro aos ladrilhos como se atuasse no ápice da sofreguidão de um personagem central. Há dias que tudo é tão mísero e banal. Não entendo metade dos meus porquês, mas sei inventa-los, questionar é um hábito ambilateral, um dia você nada sobre a sensatez, noutro se afoga na estupidez. Por isso faço cena, faço drama e me excedo na teatralidade, é preciso balancear a própria loucura e sanidade.



Anna Valentina

segunda-feira, 6 de março de 2017

Coisa



Há uma coisa que desde criança eu alimento dentro de mim, é feito uma esperança que nada espera, é feito um sopro de felicidade que nem sempre traz alegria, é uma fé que não morre, não mata, não move e nem nunca parece aquietar. É feito um afeto prensado, um calorzinho que parece pequenininho mas queima calado no peito, sem jeito. Eu juro que já tentei desnutrir essa coisa. Já tentei secar, sugar, espremer toda essa melosidade que me liquefaz, mas basta um cinema água com açúcar em copos baratos e lá estarei eu afogada nessa doçura enjoada. Histórias de amor hão de ser das refeições sua predileta, chego a ficar de olhos arregalados e dedos cruzados que se empolgam a cada trama que vira drama e me deixa a mercê da fama de uma romântica que não sabe mais o que fazer para parar. Me atirem as pedras ou aos precipícios pois adoro um amor impossível, daqueles que de tão incabível te leva ao delírio de acordada sonhar.


Anna Valentina

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Descaso




A gente cria caso, né!? Um simples descaso pode ocasionar tanto caos, mas são nos menores atos, estão incutidos nos pequenos maus-tratos diários o fatídico. A humanidade nos faz equívocos e destemperados, birramos feito criança frente as expectativas frustrantes que ninguém atende, mas entende, as relações são como plantas, precisam ser regadas com zelo. As nossas atitudes surtem efeito, se fazemos pouco caso, não hemos de ter um bom fruto para proveito.



Anna valentina