quarta-feira, 18 de março de 2020

Partidas


Me pego a ir embora, são pontos finais que às vezes parecem reticências, mas que ao virar a esquina são becos sem saídas, inóspitos e vazios. Eu costumo partir por injustificativas, quando as mutilações passam a doer demais, porque quis caber, porque fiz malabares com escassez e me percebi pouco apta ao circense. Chorei em terra infrutífera e beijei desencantos, até entender que minha ânsia por partir é parte que me compõe. O meu lugar é na ida, nos fins que se entrelaçam, nas palavras saudosas e nos cheiros nostálgicos carregados na nuca. Quem vive de ir-se embora é quase que crepuscular, fulgaz e anódino.


Anna Valentina

Nenhum comentário:

Postar um comentário