quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Incorrespondido


Gastei muitos dos meus dias em profusas narrativas delirantes, que rebobinavam a cada novo encontro, feito encenasse o mesmo papel em diferentes contextos e repetisse as mesmas falas enfadonhas. Existe toda uma cronologia pouco óbvia mas tão ordinária quanto as pieguices românticas numa cena de amor insuficiente, daqueles que nós costumamos chamar de incorrespondidos, mas que, no fundo, não se correspondem em intensidade e intencionalidade, porém, que se cruzaram em dado momento, hora, segundo e olhar, amores que coexistiram simetricamente - se é que isso seja capaz - mas num espaço e tempo pouco provável e escasso de se tornar material. As conexões só dão certo quando as fantasias se espelham, mesmo que em reflexos borrados e astigmáticos. O amor está diretamente condicionado a fantasia e sua capacidade em integrar o outro nela, àqueles que não cabem resta essa repetição eterna de conexões insuficientes, escassas, apoucadas, delirantes e piegas.


Anna Valentina

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